quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Dá água pro vinho, ou melhor, do sal para o carago

Não faz muito tempo ser evangélico e político era algo inconcebível. A tradição evangélica não via com bons olhos a participação dos ‘irmãos’ na vida política da cidade e criava, conseqüentemente, um grupo de pessoas apáticas e sem compromisso com a coletividade.
Lembro-me de quando se afirmava com toda convicção de que “a política era do diabo” e, por esse motivo, crentes não podiam participar da mesma. Alguns comparavam a mesa de negociação política com a “roda dos escarnecedores” lá do Salmo 01.
Quanta ingenuidade.
Bendita ingenuidade.
Recordo isto com um misto de saudade e tristeza. É que depois da bem sucedida campanha que os líderes assembleianos (Assembléia de Deus) desenvolveram em 1986 para a Assembléia Nacional Constituinte, política passou a ser algo corriqueiro e deixou todos nós, amantes desta arte secular, com uma tristeza imensa.
É que a leva de evangélicos que emergiu para a política em todos os seus níveis deixa muito a desejar.
O pastor João Gomes (in memorian), grande incentivador da participação política evangélica, afirmava que um bom crente é sempre a certeza de um bom político. Também creio assim.
Analisando os “nossos” representantes, aqueles que na campanha empunham a bandeira evangélica, vemos com tristeza uma gama de homens desonestos, péssimos pagadores, demagogos, adúlteros e descompromissados com o Reino de Deus. Ainda bem, com os tais não devemos ter nenhum tipo de comunhão. Há honrosas e poucas exceções.
Passamos da água pro vinho? Ou será que deixamos de ser o bom sal referido por Jesus Cristo e nos tornamos sal insípido, o carago? Quem vive próximo à região produtora de sal sabe do que estou falando.
O carago é aquele sal que, perdendo suas propriedades características, é jogado fora. Nas salinas é lançado ao chão por onde passam os caminhões, carros e trabalhadores. Só é para o que serve. Pra ser pisado.
O sal é uma substância essencial ao homem e indispensável a todos os tipos de vida animal. Podemos constatar a importância do papel desempenhado pelo sal, através dos registros da história da humanidade.
A palavra sal vem do vocabulário grego hals, halos, que tanto significam sal como mar. Da mesma raiz se deriva a palavra halita, dada ao Cloreto de Sódio encontrado em depósitos naturais, que é o sal gema.
O Cloreto de Sódio, que existe abundantemente na natureza, é conhecido como sal comum. O Sal é de uso antiguíssimo. Os Romanos consideravam-no como símbolo de sabedoria. Ainda hoje, um dos principais acessos de Roma chama-se "Via Salaria", era por esse caminho que chegavam as caravanas trazendo sal para a capital do Império. Eram as medidas de sal que se pagavam o trabalho dos obreiros, originando a palavra salário, usada ainda entre nós.
Que bela analogia fez Jesus do crente com o sal (Mateus 5:13). Extremamente sábia. E tenho certeza que esta alusão não foi apenas “força de expressão”.
Este ano de 2008, ano de eleições municipais em todo o país, centenas de pessoas “ditas” evangélicas estarão se apresentando ao eleitorado em busca de um mandato eletivo. É uma boa oportunidade para refletirmos sobre a qualidade do sal que queremos eleger.

Jailson Gomes é Sociólogo e Cientista Político (publicado originalmente em www.erivansilva.com em maio de 2008)

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